Resenha de "Manicômio Celeste para Damas Lunáticas" por Lua Martins

quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Como alguns de vocês devem ter visto, no blog da Liga dos Betas do Nyah! rolou a quarta rodada do Clube de Leitura e meu conto "Manicômio Celeste para Damas Lunáticas" foi o contemplado da vez. Recebi um monte de resenhas, e amei todas. Elogios e críticas me apontaram onde devo investir em permanecer enquanto estilo e segmento, e onde devo melhorar ou desistir.

Mas a resenha da minha querida autora (betei uma one-shot dela) Lua Martins ficou de fora da postagem do Clube. Ela me enviou por email, e eu amei a visão dela, as interpretações, e colocações que ninguém fez nas resenhas. Enfim, uma visão única que precisei compartilhar. Afinal, resenhas são para leitores, e não para o autor.

Segue então a resenha da Lua Martins.

Contém SPOILERS.

  Leia o conto antes.


Manicômio Celeste Para Damas Lunáticas


Resenha de Lua Martins: http://fanfiction.com.br/u/322546/


No começo achei que seria uma história triste... De uma tristeza verdadeira. Ficariam presas ali até a morte. Ponto final – the end. O final, no entanto, é de uma tristeza lírica.

Mas voltemos ao começo.

Primeiramente nos revoltamos com a situação de Juliet. Seres nojentos, abomináveis e negros. Abuso sexual é um tema forte e denegridor... E foi tratado como tal. Ele marca e estilhaça. Não há como impedir isso.

Então conhecemos Emily, que a cura. Seria ela, uma luz? Ao menos, de inicio, sim.

Quando os pais visitam Juliet, súbito temos uma esperança: eles podem perceber algo de errado! Mas o que pode se esperar de alguém que interna sua filha num lugar de aparência duvidosa? Ele sabe. E a mãe deixa-se ser iludida... Sim, deixa-se. Se realmente quisesse perceber, perceberia. Como não? Embora, claro, estejamos falando do século retrasado, no mínimo.

Ele sabe, foi ele o culpado. E Juliet sabe também. A pequena, com seu rancor, quebra o estereotipo comum. Era de esperar-se uma menina inocente e totalmente bondosa, causando contraste branco e preto. Pai malvado, menininha boa que ainda o ama! Mas a história não é assim.

Bruta. Poderia dizer que não há sensibilidade ou beleza... só que também não é isso. A perversidade choca-se com o amor delicado. O ser humano podre, o local contaminado pela podridão, são confrontados pela sensibilidade de uma humana de passado negro, desejosa de luz. E pela própria luz, Juliet, um tanto envolta pelas sombras. É nisso que está a beleza. Encontra-se na dualidade entre os espíritos corruptores e oprimidos revoltosos. No vagar entre o preto e o cinza, sem nunca chegar ao branco. E na grande sensibilidade!

Elas são vendidas, elas fogem... Há uma esperança, quem sabe? Mas já fomos avisados pela melancolia, desde o inicio. Aqui não há espaço para alegria. Felizmente, há espaço para o lirismo. Uma morte é uma morte, uma chama se apaga. A morte da luz poderia significar o reinado da escuridão. No entanto, a luminosidade não se extinguiu. Foi para o centro do negro, eliminá-lo na fonte. Juliet está viva, senhores, não se enganem – ela é a mais forte das duas.

Acho que Emily, em sua ânsia de luz, esqueceu-se de olhar para dentro de si mesma. Ela cometeu atos horríveis, claro. Como considerar-se boa depois de tudo que fez? A sensação de ser como uma doença, peste bubônica, é no mínimo, um fardo terrível. Mas mesmo quando ela curava Juliet, era apenas redenção. Talvez por isso eu tenha achado o final possuidor de uma beleza lírica. Emily agora viverá e aprenderá a lutar. Sua morte, mesmo que por Juliet, não iria ser sua liberdade. Já a pequena, ainda que jovem, compreendeu que poderia morrer, estava feliz. Sua alma seria livre.

Pensei nisso assim que terminei de ler a fic. E o que isso tem de mais? Simples: não precisei me esforçar para querer desvendá-las. Estava desprevenida e quando vi, encontrava-me no lugar delas. E as belíssimas descrições tiveram um importante papel nisso. Ainda sinto o cheiro da umidade.

Também, enquanto lia, eu observava os asteriscos e itálicos. Normalmente somos forçados a repará-los. Todavia, eu os enxerguei somente porque quis. Esse simbolismo que normalmente significa uma ruptura de cena, não se pareceu em nenhum momento com isso. E como é bom sacudir entre passado e presente, ver os acontecimentos e sentir as emoções sem ao menos perceber o tanto de coisas que estamos absorvendo. Todas essas peças possuem encaixes bem feitos – que inveja.


Só considero que pudesse se soltar um pouco mais. A autora às vezes nos dá provas de outro estilo belo e interessante, que brinca com o som e o ritmo: embriagado demais, afoito demais, excitado demais, esfregando demais nas coxas macias demais, apertadas demais… Todavia, termina por esconder-se atrás do gótico bruto, brilhoso em suas descrições e sensibilidade cancroide. Belo sim, sujo também, mas não tão impossível de se achar. Se houvesse uma maior interação entre esses dois estilos, e não somente uma pequena aparição perdida dentro de outra, a composição seria extraordinária. Do mesmo modo como ficou esse trecho: Uma donzela vadia de uma corte dos esgotos. Uma donzela vadia e fodida como uma cadela de pedigree abandonada na sarjeta. Gótico bruto, sujo e ainda sim, um estilo mais moderno, repetindo o que acha que precisa, usando palavras feias.  Quebrando tabus básicos. Enfim, sendo uma diva.

2 comentários:

  1. Leitura agonizante, instigante, apreensiva, revoltante...a cada linha vivi as angustias das duas personagens...odiei este diretor, o pai, a mãe omissa..o guarda então doente, nojento...e o padre, mas é assim mesmo...tirando a parte da cura, relato de episódios vividos quem sabe por quantas mulheres e homens também..
    Uma riqueza de detalhes, eu projetei o cenário deste horrendo lugar...dor, tristeza e felicidade...morte e nascimento e renascimento...duas partes de um só!
    Excelente seu texto.
    Emily e Juliet foram por minutos minhas heroinas!!!

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    1. Obrigada por ler e pelo carinho de vir comentar :)
      Isso faz a felicidade de uma autora ^^

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